quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A CONTA DA VIDA



Quando Levindo completou vinte e um anos, a Mãezinha recebeu-lhe os amigos, festejou a data e solenizou o acontecimento com grande alegria.


No íntimo, no entanto, a bondosa senhora estava triste, preocupada.


O filho, até a maioridade, não tolerava qualquer disciplina. Vivia ociosamente, desperdiçando o tempo e negando-se ao trabalho. Aprendera as primeiras letras, a preço de muita dedicação materna, e lutava contra todos os planos de ação digna.


Recusava bons conselhos e inclinava-se, francamente, para o desfiladeiro do vício.


Nessa noite, todavia, a abnegada Mãe orou, mais fervorosa, suplicando a Jesus o encaminhasse à elevação moral. Confiou-o ao Céu, com lágrimas, convencida de que o Mestre Divino lhe ampararia a vida jovem.


As orações da devotada criatura foram ouvidas, no Alto, porque Levindo, logo depois de arrebatado pelas asas do sono, sonhou que era procurado por um mensageiro espiritual, a exibir largo documento na mão.


Intrigado, o rapaz perguntou-lhe a que devia a surpresa de semelhante visita.


O emissário fitou nele os grandes olhos e respondeu:


— Meu amigo, venho trazer-te a conta dos seres sacrificados, até agora, em teu proveito.


Enquanto o moço arregalava os olhos de assombro, o mensageiro prosseguia:


— Até hoje, para sustentar-te a existência, morreram, aproximadamente, 2.000 aves, 10 bovinos, 50 suínos, 20 carneiros e 3.000 peixes diversos. Nada menos de 60.000 vidas do reino vegetal foram consumidas pela tua, relacionando-se as do arroz, do milho, do feijão, do trigo, das várias raízes e legumes. Em média calculada, bebeste 3.000 litros de leite, gastaste 7.000 ovos e comeste 10.000 frutas. Tens explorado fartamente as famílias de seres do ar e das águas, de galinheiros e estábulos, pocilgas e redís. O preço dos teus dias nas hortas e pomares vale por uma devastação. Além disto, não relacionamos aqui os sacrifícios maternos, os recursos e doações de teu pai, os obséquios do amigos e as atenções dos vários benfeitores que te rodelam. Em troca, que fizeste de útil? Não restituíste ainda à Natureza a mínima parcela de teu débito imenso. Acreditas, porventura, que o centro do mundo repousa em tuas necessidades individuais e que viverás sem conta nos domínios da Criação? Produze algo de bom, marcando a tua passagem pela Terra. Lembra-te de que a própria erva se encontra em serviço divino. Não permitas que a ociosidade te paralise o coração e desfigure o espírito!...


O moço, espantado, passou a ver o desfile dos animais que havia devorado e, sob forte espanto, acordou...


Amanhecera.


O Sol de ouro como que cantava em toda parte um hino glorioso ao trabalho pacífico.


Levindo escapou da cama, correu até à genitora e exclamou:


— Mãezinha, arranje-me serviço! Arranje-me serviço!...


— Oh! meu filho — disse a senhora num transporte de júbilo —, que alegria! Como estou contente!... Que aconteceu?


E o rapaz, preocupado, informou:


— Nesta noite passada, eu vi a conta da vida.


Daí em diante, converteu-se Levindo num homem honrado e útil.


Livro: Alvorada Cristã
Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Neio Lúcio
FEB – Federação Espírita Brasileira




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